segunda-feira, 20 de junho de 2011

Miopia e inépcia na administração cultural em Minas Gerais


Arrematei, há uns tantos dias, um dos últimos pares de ingressos disponíveis para a apresentação da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, ao longo desta semana no Grande Teatro do Palácio da Artes, como parte da temporada de óperas da Fundação Clóvis Salgado.

Ao chegar à bilheteria do Palácio das Artes — que permanece na idade das trevas, sem conhecer cartões de pagamento ou internet
 —, fui desde logo advertido pela atendente da escassez de ingressos restantes. Aliás, mais que advertir, a funcionária parecia cultivar um sádico prazer em repetir que eu não conseguiria nenhum posto razoável para assistir ao espetáculo.

Assim, adquiri logo em espécie, cédula sobre cédula, vez que, repito, a bilheteria não aceita cheques ou cartões de pagamento os lugares que julguei, em perfunctória avaliação, tratar-se dos menos ruins à disposição,  sem sequer buscar atender minhas bem estabelecidas preferências de fila e setor, ou mesmo fazer a elementar escolha entre platéia e balcão.

À vista da repetição desse tipo de situação a cada temporada de óperas em Belo Horizonte, o que faço, além de me irresignar, é me perguntar: 

  • Por que, afinal, a Fundação Clóvis Salgado não procura adequar a oferta de seus preciosos produtos culturais à crescente e efetiva demanda por eles existente na Capital mineira?
  • Por que, para além de vastas expectativas criadas por meio de intensa campanha publicitária com o que visa a difundir o gênero entre o grande público , a Fundação Clóvis Salgado não investe na substancial ampliação do número de apresentações de cada ópera, bem ainda dos demais espetáculos em cartaz por tempo limitado, passando das atuais 4 ou 5 para, por exemplo, 10 ou 15 sessões?

  • Por que a Fundação Clóvis Salgado, a par da preconizada adequação da oferta, não abandona o arcaísmo das transações em moeda sonante e cria um sistema racional e eficiente de venda de bilhetes para as apresentações no Palácio das Artes, com o uso de meios eletrônicos de aquisição e de pagamento, inclusive à distância, via internet?  

São questões simples, cuja necessidade de que sejam postas pelos freqüentadores das atividades da Fundação, todavia, denota a miopia e a inépcia dos gestores do setor cultural em Minas Gerais.

Com a palavra, pois, os responsáveis pela formulação e pela implementação das políticas públicas concernentes à cultura em nosso Estado.




3 comentários:

  1. Bem postas as perguntas, Renato. Já que o mais difícil - quebrar o preconceito de que "ópera é espetáculo para pedantes" - tem sido logrado, é de pasmar que o mais fácil, que é de ordem exclusivamente administrativa, não se opere.

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  2. Você tem toda razão, Ricardo. Mais fácil que montar uma ópera e lotar o Grande Teatro de espectadores é resolver esses pequenos inconvenientes que aponto. Mas a incompetência dos gestores da cultura e a acomodação do consumidor de produtos culturais não sinalizam qualquer mudança.

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  3. Aliás, assisti na semana passada a 'La Boheme' e os desacertos administrativos continuam os mesmos.

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