domingo, 19 de junho de 2011

O Direito, a Academia e o País perdem Washington Peluso Albino de Souza


A última semana chegou ao fim com o mundo jurídico em estado de luto. Faleceu na última quinta-feira, 16 jun., aos 94 anos anos de idade, o jurista Washington Peluso Albino de Souza, professor titular e emérito na Universidade Federal de Minas Gerais.


O Prof. Washington Albino teve toda a vida dedicada à Academia, com seu trabalho na Casa de Afonso Pena, que dirigiu em fins dos anos de 1980 e onde trabalhou até seus últimos dias, na direção da Revista da
Faculdade de Direito da UFMG.

Último remanescente de uma brilhante geração de grandes mestres — que, em rigor, é a geração dos mestres de meus mestres —, o Prof. Washington Albino sempre se houve como um genuíno primus inter pares.  Recordo-me com saudades do encontro casual que com ele tive em um café nas cercanias da Faculdade, uns tantos meses antes de seu passamento, quando se deteve a me aconselhar longamente, com vagar e firmeza, a produzir com afinco e publicar com regularidade meus modestos escritos acadêmicos. Não por acaso, sempre tive por ele a reverência e o carinho de um discípulo.   

Seus mais
autênticos e fiéis discípulos, porém, são aqueles que têm dado seguimento à escola do Direito Econômico por ele delineada e construída no Brasil. Contam-se nessa categoria juristas de destaque entre os de minha geração, como o Prof. Dr. Ricardo Antônio Lucas Camargo, hoje na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que escreveu, em rede social de que participo, a seguinte manifestação por ocasião do falecimento do mestre, que me permito aqui transcrever sem, por desnecessário, mais dizer.

"Perdemos, na madrugada do dia 17 de junho de 2011, um dos maiores pensadores do Direito no país, o introdutor do Direito Econômico no Brasil - sobre o qual escrevera pela primeira vez em 1949, em sua tese de concurso "Ensaio sobre conceituação jurídica do preço", para a cátedra de Economia Política -, um Professor que dedicava um amor romântico à Escola em que ensinava e um amigo dedicado de seus alunos. Não direi que foi um batalhador incansável - porque, mesmo tendo travado muitas batalhas, como ser humano, também se cansava -. Não direi que foi um herói invencível - porque, por vezes, a incompreensão que o cercou e a pequenez com que os sectários de todo tipo que pululam no País procuram os hereges e apóstatas por vezes derrotou belos projetos -. Não direi que tudo o que fez foi acertado - porque, na realidade, muitas vezes, pelo excesso de confiança em alguns que não a mereciam e pelos egos feridos pela franqueza com que sempre se pronunciava, veio a cometer erros involuntários -. Foi o homem que estudou a fundo o Barroco Mineiro, e veio a revalorizá-lo a partir de documentos que encontrou na França, quando esteve a pesquisar ao lado de François Perroux e Claude Lévi-Strauss. Foi o homem que mesclou a aula expositiva - a que denominava, jocosamente, "aula de blá-blá-blá" - aos seminários, com excelentes resultados. Foi o primeiro Diretor a ser guindado a esta cadeira por eleição - fato memorável de que tive o privilégio de participar, inclusive fazendo campanha, naquele ano de 1986 -. Foi quem me ensinou o valor da pesquisa para a boa produção do Direito, não somente na teoria, como na própria prática. Foi quem meus filhos, sem serem seus netos de sangue, chamaram "vovô", sem pestanejar. O Professor Washington Peluso Albino de Souza, a quem devo tudo o que pude produzir de mais consistente no Direito, homenageado em 2009 merecidamente pelo IAMG, foi mais que um Professor, um pai."  
Ricardo Antônio Lucas Camargo   

 Washington Peluso Albino de Souza
(1917 ~ 2011)


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