quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Renault Duster: um SUV que quase convence, mas que não impressiona


Interessado em trocar meu pequeno sport utility
, dirigi-me dia desses a uma concessionária a fim de conhecer o novo Renault Duster, recente lançamento da marca francesa destinado a concorrer no segmento do mercado brasileiro hoje sob o domínio absoluto do Ford EcoSport.
Segundo as impressões que pude colher no show room da loja, o carro, se não decepciona inteiramente, está longe de causar empolgação.

Com um design que apresenta ares de um legítimo sport utility vehicle - SUV transmite a idéia de força e robustez típica dos produtos oriundos do Leste Europeu — trata-se, afinal, de projeto originalmente desenvolvido pela fabricante romena Dacia, que integra o grupo Renault —, o carro tem porte imponente e conta com razoável espaço interno para até 5 pessoas, além de generoso porta-malas com capacidade superior a 400 litros. Entre as opções de motorização, a Renault oferece seu eficiente propulsor de 2.0 litros de capacidade cúbica e 142 cavalos de potência máxima, já testado e aprovado no mercado brasileiro.
Se as virtudes gerais são evidentes e inequívocas, não menos expressivos são os graves defeitos pontuais que apresenta o Duster, todos eles perfeitamente evitáveis, assim quisesse a Renault. 

No exterior sobressaem os apliques cromados, usados de forma abusiva e destoante da proposta do veículo, um modesto e austero utilitário.  

O acabamento do interior, por outro lado, é pobre para um carro que chega a custar em torno de R$ 70 mil. A forração é de extrema simplicidade e se misturam nos painéis frontal e das portas, bem como no console central, variados tipos e texturas de plásticos rígidos que, além de produzir certa confusão e poluição visual, são pouco agradáveis ao tato e comunicam a impressão de demasiadas singeleza e fragilidade. 

O aceitável câmbio automático de 4 marchas com troca seqüencial só é oferecido, incompreensivelmente, na versão de tração simples — repetindo, nesse particular, a estúpida configuração também presente na linha EcoSport. Quem quiser tração integral que se vire com a trabalhosa transmissão de acionamento manual e o torturante pedal de embreagem. Quem não abre mão do conforto da transmissão automática que se contente com a convencional tração somente nas rodas dianteiras.

Por falar na versão equipada com tração integral  recurso acionado por um conveniente seletor rotativo no painel , essa é, de forma igualmente incompreensível, a única que conta com suspensão traseira independente do tipo Mac-Pherson, com multi-link. Nas demais, inclusive a versão de topo Dynamique, o consumidor deve se resignar com o obsoleto e precário eixo de torção, atentado à estabilidade que de resto constitui deplorável regra no mercado brasileiro.

Para coroar as impressões negativas, as condições de comercialização se apresentam bastante hostis ao consumidor. Repetindo o que se deu quando do lançamento do sedan Fluence, ao procurar uma concessionária o cliente encontra estoque limitado para pronta-entrega, encargos de financiamento acima da média do mercado e — pasmem! — a inaceitável prática de ágio em relação ao preço divulgado pela fábrica. Com efeito, a concessionária Valence de Belo Horizonte pedia pelo Duster, na versão Dynamique equipada com motor de 2.0 litros e câmbio automático, nada menos que R$ 69,9 mil iniciais, contra os R$ 64,6 mil constantes na tabela oficial da Renault. Um sobrepreço, pois, da ordem de R$ 5 mil. Paga esse montante o tolo que assim quiser.

Entre virtudes consideráveis e vícios vários, pois, o Renault Duster é um veículo que causa favorável impressão inicial e quase chega a convencer a quem procura um SUV compacto e valente para uso misto sobre asfalto e terra, na dita 'faixa de entrada' do mercado, onde também se situam, além do Ford EcoSport, o Hyundai Tucson e o Mitsubishi Pajero TR4, todos em avançado estado de obsolescência. 

Mas, examinado em detalhes o carro e vistas detidamente as condições de comercialização nesta fase de lançamento, o produto franco-romeno está longe de despertar mínima empolgação a um consumidor dos mais exigentes. 




     

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5 comentários:

  1. Braga da Rocha,

    Gostei do seu texto e pude ter uma idéia melhor do Duster. Fiz o test drive no 2.0 (Dinamique) e não me decepcionei com o desempenho, mas concordo que o carro não me empolgou muito. Principalmente pelo acabamento do seu interior. Também fiz o teste em um Citroén Aircross Exclusive e, apesar do motor ser 1.6 e andar menos que o Duster, o design externo, a qualidade de acabamento do interior e as opções de tecnologia e conforto me deixaram inclinado a escolher este último. No entanto tenho receio de me arrepender depois por causa da desvalorizacao no mercado e alto consumo de combustivel. Qual sua opinião ao comparar estes dois carros?

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    Respostas
    1. [resposta em Dec 18, 2011 11:57 PM]

      O conjunto motriz do Renault Duster realmente não decepciona, na versão Dynamique equipada com motor 2.0 litros, acoplado seja ao câmbio manual de 6 marchas, seja ao autômático de 4, com troca seqüencial.

      O acabamento, porém, é paupérrimo, com uma profusão de plásticos de duvidosa qualidade que não se vê sequer em muitos dos carros ditos 'populares'.

      Na comparação com o Citroën AirCross Exclusive, sobretudo, a diferença de qualidade do acabamento fica gritante. Agregue-se a isso o 'design' e a tecnologia embarcada, além dos variados requintes comumente oferecidos pela Citroën, para que o AirCross conquiste facilmente a simpatia do consumidor.

      Todavia, o motor 1.6 da Citroën, com pouco mais de 100 cv, a meu juízo se revela muito débil para levar o veículo com agilidade, sobretudo em arrancadas e retomadas. Com câmbio automático, então, mesmo contando a opção de troca seqüencial, diz-se que o desempenho fica sofrível, abaixo da crítica.

      Além disso, o AirCross é um veículo para uso predominante em pisos asfaltados, de boa qualidade. Apenas a altura em relação ao solo, um pouco maior que a dos veículos convencionais, sugere tímidas incursões em pisos não pavimentados. Mas eu não apostaria na resistência do carro a esse tipo de uso.

      Já o Duster transmite a imagem de um autêntico SUV, de uso misto em cidade e campo, cuja robustez parece permitir, mesmo sem a tração integral, aventurar-se por terrenos um pouco mais acidentados.

      Em síntese, parece-me que a escolha entre Renault Duster e Citroën AirCross deve se orientar, antes que unicamente pelo simples gosto pessoal, pelo perfil de uso do comprador.

      Se você valoriza apelo estético e itens de conforto e tecnologia, mas não faz questão de desempenho ágil, trafega quase todo o tempo na cidade, não necessita de espaço no porta-malas e não pretende encarar estradas ruins, o AirCross pode ser uma boa escolha.

      Já se você gosta de respostas rápidas do motor, gosta ou precisa de um bom espaço na cabine e no porta-malas, sente sedução por trilhar caminhos pouco explorados e não se importa com um visual um tanto antiquado, embora atraente, sua opção pode ser o Duster.

      Espero ter, prezado Lucas Machado, atendido com minha opinião à sua expectativa.

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    2. [resposta em Dec 19, 2011 12:04 AM]

      Em tempo: O consumo de combustível do motor 1.6 da Citroën não creio que seja extraordinariamente alto, embora não disponha de dados a respeito. A desvalorização dos veículos da marca, todavia, costuma ser, com efeito, acima de média do mercado. Mas nada que inviabilize financeiramente a opção pelo veículo, segundo penso.

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