segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O caso Lupi e a grande imprensa, a propósito de um escrito de Augusto Nunes



Já tive a oportunidade de comentar, aqui no Blog do Braga da Rocha, pelo menos uma entre muitas interessantes notas publicadas por Augusto Nunes em sua coluna, que integra o sítio eletrônico da revista Veja.


Ontem, a coluna de Nunes publicou matéria intitulada O Brasil que presta derrota Dilma e Lupi: mais um corrupto cai fora do governo, em que escreve: 
"Graças à coragem da imprensa independente e à indignação dos brasileiros honestos, o país acaba de livrar-se de Carlos Lupi. É o sexto ministro despejado por corrupção em menos de um ano de governo Dilma Rousseff. Se dependesse da presidente, os seis continuariam no emprego. A faxineira de araque não sabe viver longe do lixo. De novo, fez o que pôde para preservar a sujeira no primeiro escalão. De novo, acabou se rendendo à evidência de que os inquilinos do Planalto podem muito, mas não podem tudo."
(atalho para o texto integral da publicação pode ser encontrado aqui e ao final deste post

Carlos Lupi, de fato, é o tipo de político de comportamento usualmente suspeito e seriedade altamente duvidosa, a respeito de quem pairam fortes indícios da prática de atos de questionável lisura, para dizer o mínimo, no comando do Ministério do Trabalho ao longo dos últimos cinco anos. Jamais teve estatura técnica, política ou moral compatível com o cargo de Ministro de Estado. Só sobreviveu na função por tanto tempo graças ao intrincado e corrupto jogo de alianças partidárias com que se usa sustentar o sui generis modelo de governo de coalizão 
adotado no Brasil — registre-se, em todos os mandatos presidenciais e parlamentares ao longo das últimas décadas.


Após um mês de seguidas denúncias contra si publicadas na grande imprensa, que tiveram como resposta de parte do ministro não mais que insubsistentes subterfúgios de defesa e bizarras bravatas, Lupi se tornou um morto-vivo político na Esplanada e acabou por pedir exoneração do cargo na noite de ontem, 4 dez., antes que a presidente Dilma Rousseff o demitisse sumariamente do posto, após recomendação nesse sentido feita na última sexta-feira, 2 dez., pela Comissão de Ética da Presidência da República.


Ao que consta, pois, mais que pela artilharia tendenciosa da revista Veja e quejandos  — sem embargo dos importantes elementos trazidos à luz pela imprensa a respeito das obscuras relações de que participava o ministro —, Lupi foi efetivamente defenestrado, afinal, a partir de uma séria e corajosa decisão tomada pela comissão presidida pelo jurista Sepúlveda Pertence, respeitável ex-ministro do Supremo Tribunal Federal. 


E isso me faz tornar à questão do chamado 'Partido da Imprensa Golpista - PIG' que se presume capaz de abater ministros em série e conduzir governos à instabilidade, conforme se evidencia na mencionada matéria de Augusto Nunes.  


Quando se comporta como verdadeiro jornalista, Augusto Nunes produz textos sérios e consistentes, alguns até mesmo dignos de nota pela genuína indignação que revelam contra tudo aquilo que de pior há nas entranhas do Estado brasileiro. Quanto se traveste, porém, de prosélito de partidos políticos e ideologias, Nunes perde o tênue equilíbrio e o restante de sobriedade que se vêem em outros escritos seus, para se render à tendenciosidade e ao farisaísmo típicos da generalidade de seus colegas da grande imprensa, nomeadamente os que cerram fileiras no dito 'PIG'.


Assim, o que o articulista chama de "coragem da imprensa independente", no caso Lupi como em tantos outros, não passa — para além do legítimo exercício do papel de fiscalização da atuação dos agentes públicos pela atividade jornalística séria, autônoma e conseqüente — do velho golpismo eivado e cultivado em diversos setores dos meios de comunicação de massa que, embora comprometidos com interesses políticos e econômicos vários, insistem na desfaçatez de fazer pose de isentos e cultivar o mito da neutralidade. 






3 comentários:

  1. Renato, parabéns pelo texto, muitíssimo bem escrito como de hábito. Apenas uma observação: a falta de estatura para o cargo e os "malfeitos" do Lupi já eram do conhecimento do Planalto há muito tempo. Quando a imprensa nos faz saber disso - e para mim, importa pouco ou quase nada os objetivos desta imprensa, desde que verdadeiros os fatos - a situação torna-se insustentável. Infelizmente, a Presidente ainda tentou mantê-lo no cargo, apenas para mostrar autoridade. Conseguiu, com isso, desgastar-se e paralisar o governo. Patético!
    Por essas e outras, prefiro o PIG (no qual não acredito) à conivência. Acho sim que cabe à imprensa exaltar a opinião pública diante de tal descalabro. Abraço!

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  2. Obrigado pelo comentário, Bruno. De fato, Lupi é um notório escroque. Sequer devia ter sido feito ministro, num país que leve a política e a administração pública minimamente a sério. E, concordo também nisso com você, levou para cair tempo muito mais que o aceitável.

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