segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

'O Morcego', de Augusto dos Anjos


O Morcego
Augusto dos Anjos


Meia-noite. Ao meu meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede ...”
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circundante sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh´alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!







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