quarta-feira, 14 de março de 2012

'Happy hour' com Leo Barreto e amigos no Choppeto



Assisti na noite de ontem, uma vez mais, à apresentação do músico Leo Barreto — freqüentador do circuito compreendido entre a Capital mineira e a Região dos Lagos, no litoral fluminense — no simpático e 'descolado' Choppeto, no bairro Floresta, em Belo Horizonte.


Barreto é um músico refinado e versátil, que transita com absoluta naturalidade e singular destreza entre o blues, o rock, o pop e a MPB. Ontem, como noutras oportunidades, ofereceu aos ouvintes música de alta qualidade em interpretações impecáveis, com arranjos vocais e instrumentais bastante fiéis aos originais, distanciando-se dos vezos demasiado virtuosistas ou autorais sem, todavia, resvalar para o mero pastiche.


A noite terminou com as sucessivas 'canjas' de Flávio Luís, homem da música e do direito que tive o prazer de conhecer e ouvir, e de Fabiano Nascimento, em curta temporada por cá, prestes que se encontra a tornar aos palcos europeus a partir de Knokke-Heist, Bélgica, onde vive.


A Roberto Auad, artífice-mor desses felizes encontros, meu agradecimento.




Leo Barreto



quinta-feira, 8 de março de 2012

Super-Homem

No Dia Internacional da Mulher, para além das homenagens mais óbvias, ocorrem-me esses líricos versos com que, em meio a referências que transitam entre Nietzsche e Mario Puzo, Gilberto Gil faz uma poética, e para muitos controversa, refrência à mulher.
 
Super-Homem, a Canção
Gilberto Gil
Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver
Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
E só por ela ser
Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher






terça-feira, 6 de março de 2012

Lembrança de Mario Covas


Lembra-se hoje o falecimento, há 11 anos, de Mario Covas, ao certo um dos maiores vultos da história política da República, cujo inestimável legado legado ético e político não encontra
, lamentavelmente, sucessores à altura. 

Já não se fazem homens públicos dessa estatura como antigamente...










segunda-feira, 5 de março de 2012

"O que é isto, Senhores das Armas?"


A propósito da 'questão militar' ora posta ao País por um punhado de oficiais inativos que insistem em desafiar a sociedade, a história e a razão, transcrevo a seguir excelente artigo de João Vicente Goulart, com atalho para a publicação original.







Os Senhores das Armas:
… ’Que venham, por aqui não passarão’



O que é isto, Senhores das armas?


Uma ameaça velada de intimidação ao povo brasileiro sobre a sua liberdade? Ou talvez um velho cacoete sustentado pelos fantasmas da Constituição que vossas autoridades das armas romperam em 1964, derrubando Jango, um presidente constitucional, fechando o Congresso, prendendo, torturando, desaparecendo, sequestrando e arrasando famílias em nome do Estado brasileiro, surrupiado pela prepotência dos fuzis e dos atos inconstitucionais e ilegais que foram praticados em nome da intolerância e da censura?
Não passarão aonde, Srs. militares? Quem, o nosso povo? A nossa Constituição promulgada democraticamente? Um governo legitimado como o da presidenta Dilma com mais de 52 milhões de votos? Quem não passará?
Quem são esses fantasmas “subversivos” que não aparecem, pois seus corpos são reivindicados pelos seus entes? Desaparecidos sob a tutela do Estado, e por certo não em um Estado de Direito e sim em Estado de exceção, imposto pelas armas.
Quem são os subversivos? Aqueles que se rebelaram contra a supressão e quebra da constituição em vigor, ou aqueles que a subverteram?
Passarão sim senhores saudosistas da prepotência!
O nosso povo depois de 21 anos de opressão conquistou esse direito que as armas de nossas instituições lhe haviam suprimido.
Ele passará onde seja, dentro da legalidade e dentro da democracia conquistada com muito sangue, sacrifício e lutas contra a tirania.
Nossas Forças Armadas não deveriam temer a Comissão da Verdade, que nada mais é do que uma auditoria interna no coração de nossa Pátria para fazê-lo mais transparente e forte cicatrizando as feridas do passado, para que as novas gerações possam não cometer os erros que cometemos, de ambas as partes e poder assim caminhar com altivez rumo ao futuro que une todos os irmãos brasileiros.
Agora; “por aqui não passarão” é uma provocação à Liberdade e à Democracia.
A História de uma Nação pertence ao seu povo e o seu conhecimento é a sustentação de sua redenção.
Diz a música de Chico: “Vai passar nesta avenida um samba popular…”
“num tempo…, página infeliz de nossa história….
Passagem desbotada na memória…
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa Pátria mãe tão distraída… sem perceber que era subtraída…, em tenebrosas transações…”
Nós brasileiros, sabemos cantar. Nós brasileiros sabemos lutar. Nós brasileiros não perdemos as nossas referências.
Nós brasileiros nascemos neste solo e dele seremos adubo para as flores das novas gerações.


João Vicente Goulart é filósofo, presidente do Instituto Presidente João Goulart




domingo, 4 de março de 2012

Um alerta: Por que não se calam?!


Segundo notícias que circulam, há dias um grupo de oficiais da reserva deliberou publicar manifesto intitulado Alerta à Nação - eles que venham, aqui não passarão, no sítio eletrônico do Clube Militar, com críticas ao governo e à criação da chamada 'Comissão da Verdade'.

Ainda segundo esse mesmo noticiário, o comportamento dos militares teria provocado a irritação da presidente Dilma Rousseff, chefe máxima das Forças Armadas, e a determinação do ministro da Defesa, Celso Amorim, de suspender a publicação do manifesto e de aplicar punições aos signatários.

É certo que a vida militar se baseia na absoluta reverência às instituições e no estrito respeito à hierarquia, de modo que aqueles que se fazem imiscuir em assuntos políticos e questionam a autoridade civil legitimamente constituída, tal como fizeram os autores do manifesto, devem responder por isso na forma da lei.

É bem verdade, porém, que legislação específica em vigor — nomeadamente a Lei n. 7.524, de 17 de julho de 1986 — assegura aos militares inativos o direito de manifestação sobre temas políticos, respeitados os limites da lei civil.

Sem embargo, se parece, efetivamente, que o manifesto dos oficiais não comporta punição na órbita disciplinar, isso não salva da impropriedade ética e do descabimento político o episódio.

A propósito do imbróglio, recebi do amigo Roberto Auad, eminente advogado e homo politicus em essência, o seguinte comentário, percuciente e lapidar, que me permito aqui transcrever:

“Em qualquer pais civilizado do mundo [...] o lugar do militar é na caserna. Aposentando-se, querendo fazer política, que a faça, sem usar o posto que não mais existe.”


Em assuntos políticos, convém que se diga, militar bom, de farda ou de pijamas, é militar calado.

Com efeito, não se pode admitir que pretendam os militares exorbitar seu campo de atuação institucional — como volta e meia ocorre ao longo da história, inclusive a brasileira, com invariavelmente trágicos resultados — para imiscuir-se na vida política, ambiente essencialmente civil.

Se é bem verdade que todo cidadão tem o direito de opinar sobre política e demais temas de interesse comum da sociedade, é igualmente assente, em qualquer democracia, que aqueles que detêm as armas com que se exerce o monopólio estatal da força não podem, em situação alguma, questionar os poderes constituídos. Se o fazem, está-se no campo da insubordinação, que se avizinha da insurreição e caminha, não raro, para o golpismo.

Tratando-se de militares já fora da vida castrense, que atuem politicamente como quiserem, pois isso lhes é facultado pela lei — conquanto a solução legislativa, tal como posta, seja de duvidoso acerto. Mas que exerçam seus direitos políticos, inerentes à cidadania, de modo inteiramente dissociado de sua condição de militar.

Em outras palavras: Se querem os militares inativos intervir na vida política nacional, que o façam como qualquer cidadão, deixando suas honrosas patentes na caserna.

Caso não — fica o alerta, tal como dado certa feita por um eminente soberano a um típico militar golpista latino-americano —, que se calem.






sexta-feira, 2 de março de 2012

Cala-se a voz de Lucio Dalla




Lucio Dalla, 1943 - 2012




Em vídeo, excerto de Lucio Dalla, tu non mi basti mai, com a intrepretação
da canção Caruso, gravada ao vivo em Verona (disponível em http://bit.ly/zPq1dz)



 

Caruso
Lucio Dalla


Qui dove il mare luccica e tira forte il vento
Su una vecchia terrazza davanti al golfo de surriento
Un uomo abbraccia una ragazza dopo che aveva pianto
Poi si schiarisce la voce e ricomincia il canto

Te voglio bene assaie
Ma tanto, tanto bene sai
E una catena ormai
Che scioglie il sangue dint' e vene sai

Vide le luci in mezzo al mare pensò alle notti là in america
Ma erano solo le lampare e la vianca scia di un elica
Senti il dolore nella musica e si alzò dal pianforte
Ma quando vide uscire
La luna da una nuvola
Gli sembro più dolce anche la morte
Guardò negli occhi la ragazza quegli occhi verdi come il mare
Poi all'improvviso uscì una lacrima e lui credette di affogare

Te voglio bene assaie
Ma tanto, tanto bene assaie
E una catena ormai
Che scioglie il sandue dint' e vene sai

Potenza della lirica dove ogni dramma é un falso
Che con un po'di trucco e con la mimica puoi diventare un altro
Ma due occhi che ti guardano cosi vicini e veri
Ti fan scordare le parole confondono i pensieri
Cosi diventa tutto piccolo anche le notti là in america
Ti volti e vedi la tua vita come la scia di un'elica
Ma si é la vita che finisce ma lui non ci pensò poi tanto
Anzi si sentiva gia felice e ricominciò suo canto

Te voglio bene assaie
Ma tanto, tanto bene assaie
E una catena ormai
Che scioglie il sangue dint' e vene sai




Adendo:

A respeito da canção Caruso, leia-se interessante comentário em http://bit.ly/xY8eSc






quinta-feira, 1 de março de 2012

O que dói em viver - de um poeta que me foi apresentado por Roberto Auad



Emílio Moura, 1902-1971



Canção
Emílio Moura

Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.

Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.

Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.

Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.

Que tudo o mais é perdido.