terça-feira, 5 de junho de 2012

Crise real, fundamentos artificiais


Há dias publiquei breve artigo no qual — em meio a bons augúrios ao novo governo de François Hollande, em França — fiz referência, obiter dictum, aos fundamentos da presente crise européia, que radicam não em desequilíbrios orçamentários supostamente gerados por gastos sociais, mas constituem, antes, um fenômeno gerado artificialmente como decorrência da incondicional subordinação das economias, mundo afora, àquelas tidas como sacrossantas forças do 'mercado'.

Entenda-se que tal mercado é constituído não pelos segmentos efetivamente produtivos da economia mundial, muito menos se refere à sua interação com o pujante elo final da cadeia econômica, os consumidores.

O dito 'mercado' é formado, basicamente, pelos agentes do grande capital, integrantes do sistema financeiro internacional, que — levando ao paroxismo, ou exorbitando, como nunca, seu tradicional papel de sanguessugas daqueles que trabalham e produzem — têm gerado ciclos alternados de ledice e desgraça de nações inteiras.

Tudo isso ao sabor dos movimentos de alocação circunstancial e arbitrária desse poderoso capital apátrida e dos vaticínios — adrede ora otimistas, ora sombrios — que emitem sobre o presente e o futuro das economias nacionais, invariavelmente segundo os interesses e as conveniências daqueles que os proferem.

Daí porque não passar de rematada balela, difundida pelas cassandras a serviço do famigerado 'mercado', a idéia de que a crise européia decorre de elevados e supostamente insustentáveis gastos públicos, havidos para suportar a admirável rede de proteção social erigida no Velho Continente desde o pós-guerra.

No Brasil, como nas demais franjas da civilização, há quem compre de boa-fé, ou sustente de má-fé, esse discurso calhorda de restrição aos gastos sociais, que costuma atender pelo codinome de 'redução do tamanho do Estado'. Justamente por cá, onde jamais chegou o Estado do bem-estar social.  









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