domingo, 26 de outubro de 2014

Direita, não volver!


Há cerca de quatro anos publiquei, no velho Blog do Braga da Rocha, a seguinte manifestação relativa às eleições presidenciais de 2010:


Caros amigos e leitores:
Como se sabe, faltam menos de duas semanas para o segundo turno das eleições presidenciais. Vinha um tanto vacilante quanto à escolha e recalcitrante em declarar meu voto. Não sou fiel eleitor, apoiador ou prosélito de qualquer partido político, muito menos filiado a algum deles. Não tenho, igualmente, preferência a priori por nenhum dos candidatos envolvidos na disputa, embora reconheça grandes qualidades, como também limitações, de ambos os postulantes ao cargo de presidente.
Conforme muitos bem sabem, servi ao longo dos últimos onze anos à Administração Pública federal, em Brasília, tendo ocupado diversos postos de elevado escalão no governo, tanto na gestão de Fernando Henrique Cardoso quanto na gestão de Lula. Posso dizer, pois, sem risco de cometer grande equívoco, que adquiri um vasto conhecimento e uma considerável experiência, a partir de perspectivas privilegiadas, do modo de conceber e operar a Administração ao longo desses anos, sucessivamente, pelo PSDB e pelo PT.
É nesse contexto, por conseguinte, que posso dizer da minha inabalável certeza de não mais desejar testemunhar ações de um governo dado a promover, em nome da austeridade e da eficiência, uma verdadeira devastação das estruturas do Estado. E isso é o que se fez neste País, sistematicamente, entre os anos de 1995 e 2002. Tal devastação foi levada a cabo não apenas por meio da venda açodada e irresponsável de empresas públicas, com financiamento sustentado por dinheiro público, mas também, e sobretudo, por meio da depauperação dos órgãos e entidades da Administração, nomeadamente aqueles da área social, da fragilização de carreiras estratégicas do Estado, mantidas sem concursos de ingresso e sem salários dignos, e da desenfreada terceirização de variados serviços, no interesse do setor privado e a dano do interesse público, entre outras mazelas.
Assim, conforme venho sinalizando em minhas mais recentes manifestações aqui e alhures, no próximo dia 31 de outubro confiarei meu voto à candidata Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, pelo que representa de ruptura com o modelo outrora adotado.
Convido-lhes também a considerar, pelas razões fundamentais que aqui manifesto, tal opção de voto.
Saudações,
Braga da Rocha

Neste ano, configurada semelhante situação na disputa eleitoral, não tenho porque modificar substancialmente minha posição, tal como supra explicitada.

Se, por um lado, o governo Dilma Rousseff não se mostrou tão exitoso quanto o governo Lula no trato da economia — embora enfrente, registre-se, uma crise econômica mundial sem precedentes —, por outro deu seguimento às magníficas conquistas sociais iniciadas no período de seu patrono e antecessor, como dão conta a generalidade dos indicadores nacionais e internacionais a respeito. E isso, por si, já seria bastante para justificar meu apoio, ainda que sem o maior dos entusiasmos, à reeleição da atual presidente.

Sem embargo, porém, nestas eleições, talvez como em nenhuma outra, aglutinaram-se em torno da principal candidatura de oposição, com empenho jamais visto, os segmentos mais retrógrados da vida política nacional, o conservadorismo mais tacanho e obscurantista, a direita mais radical e antidemocrática. Isso trouxe de volta ao cenário político não apenas a proverbial
 ortodoxia econômica monetarista conjugada com insensibilidade para reclamos sociais, mas também a intolerância ideológica, o perspectiva patrimonialista do Estado, o coronelismo político-eleitoral, os preconceitos de toda ordem, a xenofobia, os corporativismos, o ideário fascista, o neo-udenismo golpista, a homofobia e outros aspectos marcantes de um pensamento que, à luz dos valores dominantes em uma sociedade democrática no séc. XXI, pode-se dizer digno das trevas medievais. E tudo isso constitui razão suficiente para afirmar minha mais decidida, absoluta e veemente objeção à candidatura da oposição de rótulo, não mais que rótulo, social-democrata que ora se apresenta no segundo turno da disputa presidencial.  

Eis minha sumária declaração de voto e posicionamento político, nesta derradeira hora das eleições de 2014.