Segundo notícias que circulam, há dias um grupo de oficiais da reserva deliberou publicar manifesto intitulado Alerta à Nação - eles que venham, aqui não passarão, no sítio eletrônico do Clube Militar, com críticas ao governo e à criação da chamada 'Comissão da Verdade'.
Ainda segundo esse mesmo noticiário, o comportamento dos militares teria provocado a irritação da presidente Dilma Rousseff, chefe máxima das Forças Armadas, e a determinação do ministro da Defesa, Celso Amorim, de suspender a publicação do manifesto e de aplicar punições aos signatários.
É certo que a vida militar se baseia na absoluta reverência às instituições e no estrito respeito à hierarquia, de modo que aqueles que se fazem imiscuir em assuntos políticos e questionam a autoridade civil legitimamente constituída, tal como fizeram os autores do manifesto, devem responder por isso na forma da lei.
É bem verdade, porém, que legislação específica em vigor — nomeadamente a Lei n. 7.524, de 17 de julho de 1986 — assegura aos militares inativos o direito de manifestação sobre temas políticos, respeitados os limites da lei civil.
Sem embargo, se parece, efetivamente, que o manifesto dos oficiais não comporta punição na órbita disciplinar, isso não salva da impropriedade ética e do descabimento político o episódio.
A propósito do imbróglio, recebi do amigo Roberto Auad, eminente advogado e homo politicus em essência, o seguinte comentário, percuciente e lapidar, que me permito aqui transcrever:
“Em qualquer pais civilizado do mundo [...] o lugar do militar é na caserna. Aposentando-se, querendo fazer política, que a faça, sem usar o posto que não mais existe.”
Em assuntos políticos, convém que se diga, militar bom, de farda ou de pijamas, é militar calado.
Com efeito, não se pode admitir que pretendam os militares exorbitar seu campo de atuação institucional — como volta e meia ocorre ao longo da história, inclusive a brasileira, com invariavelmente trágicos resultados — para imiscuir-se na vida política, ambiente essencialmente civil.
Se é bem verdade que todo cidadão tem o direito de opinar sobre política e demais temas de interesse comum da sociedade, é igualmente assente, em qualquer democracia, que aqueles que detêm as armas com que se exerce o monopólio estatal da força não podem, em situação alguma, questionar os poderes constituídos. Se o fazem, está-se no campo da insubordinação, que se avizinha da insurreição e caminha, não raro, para o golpismo.
Tratando-se de militares já fora da vida castrense, que atuem politicamente como quiserem, pois isso lhes é facultado pela lei — conquanto a solução legislativa, tal como posta, seja de duvidoso acerto. Mas que exerçam seus direitos políticos, inerentes à cidadania, de modo inteiramente dissociado de sua condição de militar.
Em outras palavras: Se querem os militares inativos intervir na vida política nacional, que o façam como qualquer cidadão, deixando suas honrosas patentes na caserna.
Caso não — fica o alerta, tal como dado certa feita por um eminente soberano a um típico militar golpista latino-americano —, que se calem.
Por que não se calam? Pergunto eu as periguetes da Dilma, que estão mais preocupadas em manter os faróis acesos para perscrutar o passado, ao invés de procurar iluminar o futuro.O passado não deve nos apontar o que fazer, mas sim o que devemos evitar.
ResponderExcluirSeria bem melhor ter ficado calado, para não dizer besteira.
ResponderExcluirMandar que o interlocutor se cale não é um modo educado de se comportar num debate ideológico, nem mesmo para o rei da Espanha...
ExcluirAo calarmos a boca dos outros estamos dando a oportunidade para que calem a nossa
Afinal, somos todos formadores de opinião, cultos ou incultos, civis ou militares. Pugnar pelo cumprimento da Lei não pode ser acoimado de indisciplina. Pois não?
Seu comentário e seu Blog já esta no portal dos militares, não estou preocupado se vai ser aprovado neste blog ou não.
ResponderExcluirVC SIM DEVERIA FICAR CALADO E SE imiscuir NOS SEUS ASSUNTOS QUE DEVE SER DE maior grandeza pra vc.....
ResponderExcluirEsse assunto me faz recordar a música "Cachorrinho", da cantora Kelly Key, em que parte do refrão deveria ser utilizada para orientar a norma de conduta atual a ser seguida pelos militares: "Sit, junto, sentado, calado".
ResponderExcluirQue eu saiba, no meio civil não há a hierarquia e disciplina, que são a base constitucional das Forças Armadas. De mais a mais, quanto à anistia, em si, não seria ela violada, nem para um lado, nem para o outro, tendo em vista a decisão da ADPF 153. Mas, para o que serviria, então a tal Comissão, que foi criada por Lei aprovada pelo Congresso Nacional? Certa vez, ouvi uma história de dois irmãos, um que morreu defendendo a cidade e o outro que, sentindo-se esbulhado pelo primeiro, morreu atacando-a. O que morreu defendendo a cidade foi enterrado com todas as honras, ao passo que aquele que morreu atacando-a, quem lhe ousasse dar um funeral seria condenado à morte. Sua irmã entendeu por bem dar sepultura ao condenado "post mortem", por lhe parecer ímpio não o fazer e, por desafiar a proibição, em nome do atendimento a um dever para com a religião, foi condenada à morte. Perguntar-me-ão quem foi o perigoso subversivo autor de história tão perniciosa, e eu responderei que foi um tal de Sófocles, falecido no ano de 406 antes de Cristo. Acessível a qualquer pessoa, traduzida para várias línguas, inclusive a última flor do Lácio, esta tragédia intitula-se Antígone e, até o presente, não havia visto ninguém que dissesse que Creonte tinha razão e Antígone merecera seu destino.
ResponderExcluirPor último, é bom lembrar quem foi chamado de golpista no texto: precisamente um dos principais demônios dos últimos tempos, o famigerado Cel. Hugo Chávez. Assegurado que seja aos militares contrários ao atual Governo o direito de se pronunciarem contra ele, deverá este direito ser, pelo mesmo metro, assegurado - estou aqui me reportando ao inciso VIII do artigo 5° da Constituição de 1988, cuja fonte, no particular, é a jurisprudência da Suprema Corte americana firmada a partir do Shelley v. Carr, com o que nada se pode falar acerca de um compromisso com "ideologias exóticas e ofensivas à natureza das coisas" - a militares com ele alinhados, na hipótese de um Governo mais à direita vir a substituí-lo. Hierarquia e disciplina não são um problema de partido ou de convicção política, mas sim um dado de permanência, sem o que não se justificaria, sequer, a profissionalização das Forças Armadas.
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