Chega através
"Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida. [...]
É inútil tudo, é inútil tudo, é inútil tudo.
Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma. [...]
Não vem com a tarde oportunidade nenhuma."
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Sim, Álvaro de Campos tinha toda a razão quando proclamava, desesperado, "m...! Sou lúcido!" Viveu um período muito parecido com o atual, em que as pessoas se têm vangloriado da própria ignorância, em que qualquer discurso fora do que se tenha como compreensível dentro de estereótipos predeterminados é visto como alinhamento automático com o "Mal". Quando diz "é inútil tudo", "através do dia de névoa não chega coisa nenhuma", traz à balha a preocupação que seus contemporâneos Joseph Conrad, Blasco Ibañez, Franz Kafka, Thomas Mann, manifestaram com a recorrência da Besta, mesmo para uma civilização que se supunha capaz de a superar.
ResponderExcluirPermito-me transcrever aqui, Ricardo, também o comentário que você fez em meu mural no Facebook:
ResponderExcluir"Boa lembrança, a do Álvaro de Campos, que viu, melhor que qualquer outro, o grande problema da esperança como um dos males de Pandora, como um logro que o ser humano se dá, para se auto-estimular."
Uma vez mais: Precisamente, meu caro amigo!