terça-feira, 16 de agosto de 2011

De bosques, casarões e construção civil predatória


Parece inverossímil a notícia contida no link acima, de uma campanha pela salvação de uma das poucas matas urbanas que restam na Capital mineira, mas desse tipo de coisa nunca se deve duvidar.

Antes de me mudar de Belo Horizonte para Roma, e logo depois para Brasília, em fins dos anos '90, tinha diante de minha varanda um vicejante bosque, onde ouvia o cantar de pássaros, a rodear um pequeno conjunto arquitetônico erguido aparentemente entre o fim do séc. XIX e o princípio do séc. XX, composto de casarão e capela, que constituíam porções da sede da fazenda que veio a dar origem ao bairro Gutierrez, espraiado entre colinas na região sudoeste da capital mineira.

Imaginava-os, por seu valor paisagístico e histórico, imunes à ameaçadora sanha da construção civil predatória, desgraça que assola as grandes cidades, sobretudo em franjas da civilização como esta na qual vivemos.

Hoje vejo no lugar de tudo aquilo diversos maciços verticais de concreto, adornados por granito e vidro, que abrigam uns aglomerados de cubículos ditos de 'alto luxo'.

A cidade perdeu um sítio natural e histórico precioso. O bairro ganhou mais verticalização e mais adensamento populacional, com todos os transtornos que isso produz no trânsito e que gera em termos de sobrecarga na demanda por serviços públicos, sem falar na efeitos ambientais, como aqueles decorrentes do aumento da impermeabilização do solo.

Para que tenha sido autorizada a construção dos prédios, especula-se que a Câmara Municipal tenha vendido o 'destombamento' do imóvel, ou algo que o valha, em um negócio multimilionário, que não raro do consórcio entre agentes públicos corruptos e empresários desonestos.

Entrementes, ninguém se importa. O famigerado 'mercado', composto por consumidores tolos, ignorantes e passivos, aceita tudo. Os construtores, à base de propina e à custa do interesse público, incrementam em progressão infinita suas fortunas. E a sociedade, como de costume, é quem perde.

Assim, perdemos todos. Ou quase todos.


Um comentário:

Comentários dos leitores são altamente bem-vindos, desde que versem sobre temas contidos na publicação e obedeçam a regras de civilidade e bom tom — vale dizer, não contenham grosserias, ofensas ou calão. Referências com 'links' para ambientes externos são livres, mas não se admitem atalhos para arquivos, paginas ou sítios eletrônicos que possam causar qualquer tipo de dano a equipamentos e sistemas eletrônicos. Em razão disso, os comentários são moderados e podem demorar um certo tempo a aparecer publicamente no Blog do Braga da Rocha.