sexta-feira, 11 de junho de 2021

Arnaldo




"Não é só pela dor que a morte nos desconcerta.
Na sua carga de enigma e mistério, espelha-se muito,
ou mesmo o mais, de nossa impotência diante do destino,
de nossa insegurança quanto ao futuro e de
nossa angústia frente ao desconhecido."
João Baptista Villela


Há exatamente um ano eu me via a contragosto despertado, logo cedo, para o que parecia tratar-se de um genuíno pesadelo: a notícia do inesperado e abrupto passamento do professor, advogado e editor Arnaldo Oliveira Jr., meu querido amigo ao longo de décadas. 

O estado de perplexidade e dor em que me pus imediata e duradouramente imerso frustraram o propósito de escrever-lhe, então, uma substancial e merecida nota obituária – que agora, talvez, já não faça maior sentido.

Restam, entrementes, as vivas saudades do fraterno amigo que conquistara já nos derradeiros anos de adolescência e que viria a se tornar, com o passar dos tempos, notável colega de ofícios jurídicos e acadêmicos, habitual companheiro de hobbies variados e dileto 'afilhado' de casamento.

Com ele costumava compartilhar desde periódicos encontros em tardes de sábado para a indefectível feijoada no Minas Tênis Clube, com animadas prosas sobre direito, política e costumes, a longas noites e madrugadas adentro de intensa reflexão sobre a existência, entremeadas de libações etílicas e tabagísticas, no recesso de casa, em que se delineavam ambiciosos projetos pessoais e profissionais para o porvir.

Não quis o destino que déssemos andamento àquela projetada publicação de uma coletânea de trabalhos de Villela, ou que concretizássemos uma acalentada viagem em recíproca companhia a Napa Valley, ou ainda que continuássemos nossas prazerosas incursões gastronômicas a bordo de Jeep & Harley Davidson pelo interior de Minas.

Mas, para algum consolo meu, esse mesmo destino, tão pungente quanto equívoco e incompreensível, foi o que me proporcionou o privilégio de ter convivido fraternal e intensamente com uma das figuras humanas mais singulares e admiráveis, por seus múltiplos talentos e incontáveis virtudes, que nossa geração conheceu. 

Salve, Arnaldo!



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